Thursday, 31 July 2008

OU NADA


Adoro quando, num segundo, o meu Dono vira a minha vida toda de pernas para o ar. Quando me obriga a malabarismos, a soluções improvisadas no momento, a usar a imaginação. Adoro quando me faz virar-me do avesso para conseguir aquilo que Ele manda.

Pode até não parecer, mas sou uma pessoa normal :-) Tenho um vida profissional responsável, uma vida familiar gratificante, uma vida social preenchida q.b. Como toda a gente tenho compromissos, coisas a fazer, sítios onde ir, assuntos a tratar. Nunca tenho "tempos mortos" nem sei o que é fazer coisas para "matar o tempo". Aliás, a maior parte das vezes o tempo não chega para fazer tudo o que quero.
Quando planeio o meu dia, deixo sempre um largo espaço móvel, para a eventualidade de o meu Dono me chamar. Como aqueles cubos em que é o espaço vazio que permite mover todas as outras peças de forma a construir um desenho lógico.
Apercebi-me que não o faço racionalmente, de forma totalmente consciente, mas que está naturalmente implícito na maneira como planeio as coisas.
O meu Dono é a minha prioridade e tudo o resto decorre a partir dessa premissa.
Gosto de pensar que essa é minha mais-valia, poder ser flexível, adaptar o meu tempo ao tempo do meu Dono.
Adoro quando tenho o dia todo muito bem planeado e de repente tenho que alterar tudo em função Dele, mover as peças todas de forma a construir o melhor de todos os cenários, a presença do meu Dono.
Nunca sei quando me vai chamar : podem passar-se dias, semanas ou então querer-me dois ou mesmo três dias ou noites seguidas, ou, como ontem, duas vezes no mesmo dia...
Salvaguardado um ou outro aspecto da minha vida, um ou outro raro momento em que possa estar temporariamente inacessível, basta uma mensagem, um telefonema do meu Dono para eu largar tudo o que estou a fazer e voar para Ele.
Não raramente tenho que fazer voltas de 180º, voltar à estaca zero, desmarcar tudo, adiar reuniões, inventar desculpas esfarrapadas. Ou, já com Ele, atender o telefone (só em última instância) toda nua com molas nas mamas ou com um plug enfiado sabe-se lá onde.
Quem me conhece já sabe e quem não conhece habitua-se a que é comum surgirem-me imprevistos.
E, óbviamente, nunca sei o que o meu Dono vai querer fazer comigo ou como o vai querer fazer. Se de alguma forma pensou em alguma coisa ou se me domina ao sabor do momento.
Adoro quando me confronta com situações que me fazem quase desabar e no último momento me agarra por uma ponta, mesmo a tempo de não cair no abismo, quando me estilhaça as ideias pré-concebidas, quando me arrasa os conceitos, me sacode, me baralha, me confunde, me faz construir laboriosamente argumentos irrefutáveis e depois, num ápice, mos desmonta e por a+b me mostra que não tenho nada que pensar, apenas sentir. Que não tenho nada que analisar, apenas servi-Lo.

Temos longas conversas filosóficas, eu toda nua aos Seus pés, a chupar-Lhe o sexo, enquanto disserta sobre a espantosa simplicidade de tudo.


APANHADA NA TEIA


Chegou com uma mala na mão. Mandou-me buscar as cordas. Ordenou que me deitasse no chão. Abriu a mala. Eu não disse nada, não perguntei nada. Há alturas em que o silêncio é mais do que suficiente. Atou-me cuidadosamente cada tornozelo junto à coxa, pernas abertas, presas por uma corda a cada gancho na parede. Os pés, mal apoiados no chão. Depois ata-me os pulsos um ao outro, as mãos em prece atrás da cabeça, daí outra corda esticada, presa à perna do sofá. De um gancho ao outro passou mais uma corda, esticada. Experimentou-a para ver a tensão.
À minha volta, o meu Dono vai construindo uma teia. Cada gesto Seu, cada volta da corda me transporta a um familiar recanto interior.
Dois clamps nos mamilos, presos entre si por uma corrente, que por sua vez é presa numa corda, que é presa numa outra corrente onde, para meu enorme espanto, vai colocando um a um desconhecidos pesos prateados. Lindos, brilhantes, deixam-me fascinada enquanto vão puxando a corrente e repuxando-me os mamilos até querer rasgar. Envolta por cordas geométricamente ligadas, sinto-me como uma mosca apanhada numa teia gigante.
Ao fundo, sinto a corda oscilar. O predador prepara-se para comer a presa. A aranha dirige-se impiedosamente para o insecto. O meu Dono senta-se então no chão e sinto "aquilo" a vibrar entre as minhas pernas.
À medida que aumenta o prazer, aumenta a dor, com outro peso colocado na ponta da corrente que me estica os mamilos. Impossível distinguir onde começa uma e acaba outro, misturam-se, confundem-se, levam-me ao extase. Não tenho autorização para me vir, também não a peço. Aquela doce tortura sabe melhor que qualquer orgasmo e eu prolongo-a até onde o meu Dono deixar.Torço-me, encolho-me, sacudo-me em espasmos, faço derivar o prazer do meu centro para a periferia, num quase descontrolado circuito eléctrico.
Os braços, amarrados e esticados atrás da cabeça, começam a doer vagamente. Aliás, tudo à minha volta é vago, excepto o prazer intenso e a dor crescente e, ao fundo a figura do meu Dono. Predador ou menino travesso que se diverte a desmontar o brinquedo? Nunca saberei, suponho. Não trocamos uma palavra, apenas os meus gemidos se perdem por entre a música de fundo. Give me a reason to love you, give me a reason to be a woman, I just want to be a woman, so don't you stop being a man...
Era capaz de ficar ali para sempre, torturada e forçada ao prazer, mas o meu Dono começa a desatar os nós. Não consigo evitar um ligeiro queixume, é mais forte do que eu, não quero sair da teia, quero apenas os contornos vagos de tudo e a figura do Meu Dono, muito nítida, entre a dor e o prazer.
O meu Dono limpa-me uma lágrima, leva-a à boca e eu pergunto-me o que terei feito para merecer tudo aquilo. Não precisei esperar muito para saber, o meu Dono adivinha-me os pensamentos : voltaste a escrever no blog. Ah! isso. Não o fiz para ganhar alguma coisa, fi-lo apenas com o primeiro e último propósito de agradar o meu Dono. E porque às vezes preciso gritar a felicidade que Ele me faz sentir cá dentro.
P.S. Esta foi a foto que encontrei mais parecida com os pesos que o meu Dono usou em mim. Fica no entanto, muito aquém do original.

CRUELDADE É...


... ir directamente de uma sessão com o Dono para um jantar de aniversário sem passar pela casa partida e sem receber dois contos.

Monday, 28 July 2008

EU NÃO SOU EU MESMA


Perguntei-me o que aconteceria à submissão se não tivesse como se expressar. À minha, naturalmente. Pensei que pudesse por si mesma transmutar-se ou que fosse capaz de a sublimar ou pura e simplesmente esquece-la. Fechá-la numa qualquer gaveta cá dentro, quem sabe eliminá-la como quem faz delete no teclado de um computador.
Talvez até o conseguisse fazer, se a minha submissão fosse meramente física, se existisse em mim unicamente como uma das tantas formas de obter prazer carnal. Nesse caso, poderia talvez substitui-la por outra forma qualquer, ou deslocá-la para outro dominador qualquer. É certo que adoptar uma postura submissa perante o meu Dono me dá uma tesão incontrolável, mas não se resume a isso. A minha submissão ao meu Dono expande-me, torna-me muito maior. Alguém que uma vez me viu aninhada aos Seus pés me disse que, submissa a Ele, eu brilho. De facto, aos Seus pés, sinto-me cintilar, irradiar tudo o que de melhor eu tenho dentro de mim.

Não descobri agora que a minha submissão vem de dentro, de algum sítio em mim onde eu não chego para poder manipular da maneira que mais me convem, mas descobri agora que eu não sou eu mesma. Sou uma parte Dele, uma célula desgarrada que Deus se esqueceu de incorporar quando O largou nesta fantástica aventura, um pedaço extraviado que só faz sentido quando encontra o Todo.
Também não descobri agora que a minha submissão, embora exista latente em mim, só se manifesta perante o meu Dono mas agora mais do que nunca pude comprová-lo.


Acredito que os homens nascem livres e iguais. Tenho fortes convicções, baseadas em argumentos lógicos, consistentes e irrefutáveis, que não há supremacia baseada no género, na cor, na espécie, em nenhuma característica inata ou adquirida. Nada nos faz superiores ou inferiores a ninguém.
Nada, excepto esta força que me puxa para o chão quando estou perante o meu Dono. Esta vontade de Lhe fazer as vontades, de me anular perante Ele.
E se as circunstâncias por alguma razão que desconheço nos levaram a pontos geográficamente distantes, a minha submissão a Ele manteve-se inalterável.
Na verdade, tudo que não seja a minha submissão a Ele me soa a falso, anti-natural e incongruente. Tudo que não seja a minha submissão a Ele, me arranha, me agride, me magoa. Me é estranho. É como se eu tivesse feito uma plástica; por fora, aos olhos dos outros pareço diferente, mas por dentro eu sou a mesma. Aprisionada numa imagem de mim que não corresponde à verdade, é como se vivesse encarcerada num corpo que não é o meu.
Procurei então, dentro e fora de mim as respostas. Perguntei a mim mesma o que é que me traz equilíbrio e felicidade. Deixei as coisas encontrarem os seus lugares, como um elástico que se estica até se deformar e depois, lentamente, retorna à sua forma natural. Também eu, ao retornar a Ele, me sinto retornar a mim, ao original, à essência, como se uma e outra coisa fossem, simplesmente, a mesma coisa.