Thursday 31 January 2008

BOFETADA


Quase imperceptíveis, muito ténues, passam quase despercebidas, mas não a mim. Miro-me, remiro-me no espelho, olho-as de todos os ângulos, sob todas as incidências da luz. Orgulho-me delas. As marcas dos dedos do meu Dono, bem desenhados, alinhados na minha cara.

INAUGURAÇÃO



Meu Dono, posso ir mijar? Não. Continuei pois, semi-nua e ajoelhada aos pés do meu Dono, a fazer uma das coisas que mais gosto, venerar-Lhe o sexo num broche interminável. Levanta-te. Teria mudado de ideias, apenas uns segundos depois? Levantei-me como se tivesse uma mola. Ali, no centro do tapete. Devo ter empalidecido. Abre as pernas. Empalideci, de certeza. Mija aí. Mas eu tinha vontade de mijar? Eu, aquela pessoa paralisada no meio da sala? Não assim, não semi-vestida, não em cima do tapete berbere que me custou os olhos da cara...não??? O meu Dono não dá a mínima atenção aos meus pensamentos. Estás a demorar muito... A vaga ideia de estar a contrariar o meu Dono, o risco de O ver sair pela porta sem uma palavra, teria sido isso? A minha condição de escrava. O poder autêntico do meu Dono. Um fiinho, apenas. Isso, mija-te toda, como uma porca que és. Depois um jorro, quente, farto pelas pernas abaixo. Como uma bolsa de água que se rompe. As botas a encher, a transbordar, a mancha a alastrar sobre o tapete colorido. Teria ficado lá imóvel, a arrefecer, mas não. Está inaugurado o escritório. Volta para aqui. Ajoelha-te. Continua a chupar.


Saturday 26 January 2008

SIAMESE


Acontece naturalmente. Se ao meu Dono apetece o que quer que seja, a mim apetece-me também. Se subitamente deixa de Lhe apetecer, eu imediatamente perco o interesse também. Como siameses ligados por um elo invisível, Ele sente, eu sinto. O meu Dono quer, eu quero. Ainda não fico doente quando o meu Dono fica, mas desconfio que é uma questão de tempo.

Sunday 20 January 2008

OUT OF MIND


O meu Dono avisou-me antes. Que me ia fazer quebrar. Que não era castigo, que era para Seu próprio prazer.

Os preparativos, como num ritual, fazem adensar as minhas emoções. Pulsos fortemente atados, presa, em bicos de pés, no gancho da parede. O meu Dono gira-me como um pião para me apertar a ball-gag.

É verdade que as agulhas me aterrorizam tanto quanto me fascinam. A dor é suportável, mas há qualquer coisa de avassalador que me toma, quando sinto a pele a ser perfurada, o metal a entrar por um lado, percorrer a carne até encontrar de novo a pele, empurrá-la, e sair por outro. Sinto o poder inexorável do meu Dono sobre mim, sinto a minha submissão levada quase ao extremo, pelo menos ao extremo conhecido.

O meu Dono estica-me o mamilo e espeta-me a primeira agulha na mama. Depois, amarra-me um tornozelo à perna do sofá e outro à roda da estante, para me manter as pernas bem abertas.
Suponho que o meu olhar aterrorizado e os meus gemidos, os sons guturais soprados de boca escancarada pela ball-gag, por entre a baba, não surtam efeito.
Acabaram-se as agulhas de 1 1/2" e o meu Dono começa a espetar-me as grossas que eu, do alto da minha sapiência, achava que me tinha mandado comprar só para me impressionar. Bom, aprendi hoje que há muitas formas de impressionar.
O meu Dono trespassa-me os grandes lábios um a seguir ao outro com uma agulha grossa. Depois, passa um cordel nessa agulha e estica-o até passar por detrás de outra agulha espetada na mama. Pequenas gotas de sangue vão caindo no chão, aos meus pés.

Houve um momento em que ainda estava lá, tive a percepção de tudo, via, ouvia, sentia, mas era como se não tivesse qualquer controlo ou censura sobre o meu próprio corpo. Nem sobre os pensamentos, nem sobre as palavras, nem sequer sobre as reacções fisiológicas. Num estado onde a mente não interfere. Depois houve outro momento, o nada. O meu Dono levou-me lá.

Talvez, pela primeira vez, verdadeiramente, nas Suas mãos.

Thursday 17 January 2008

AGRADECIMENTOS


Ao meu Dono e Senhor JB e ao Senhor B agradeço a oportunidade que me deram de Os poder servir a noite passada. Espero sinceramente ter estado à altura e ter agradado a ambos.

Ao meu Dono e Senhor JB agradeço de joelhos o privilégio de ser Sua escrava e mesmo sem querer, um a um, tornar os meus sonhos realidade.


Wednesday 16 January 2008

TER UMA ESCRAVA


Ter uma escrava é diferente de possuir outra coisa qualquer. Uma escrava combina as melhores qualidades de um objecto - não se mexe, não reclama, não faz perguntas - com o melhor de um ser humano - dedicação, capacidade de aprendizagem, vontade de evoluir. Uma escrava muda quando o Dono quer que mude e permanece quando o Dono quer que permaneça. Uma escrava vem a correr quando o Dono chama e sai a correr quando o Dono manda. Sem ses nem mas.

E, se possuir alguém que não quer ser possuído é sinónimo de abuso, despotismo, opressão, possuir uma escrava significa saber aceitar uma dádiva e usufruir dela com prazer, como e quando muito bem entender.

- Tira a roupa. De gatas, cu virado para cá.
De repente, percebi a mensagem que recebera no dia anterior, logo de manhã cedo, que me fez correr da mais apresentável à mais ranhosa sex-shop das redondezas : Compra lubrificante, sem sabor, inodoro, embalagem de 200ml, até € 12,00. Ou a embalagem era pequena, ou o preço alto, ou isto ou aquilo. Procurei não fazer muitas conjecturas, a última vez que tinha pensado que sabia o que ia acontecer ao pepino biológico tinha-me enganado redondamente, por isso limitei-me a cumprir a ordem o melhor e mais depressa que pude, ou seja, larguei tudo e fui às compras. Mas só agora, toda nua, de quatro, cu bem empinado para o meu Dono sentado confortavelmente no sofá, que, pelo ruído, calçava devagar uma luva de latex, fiquei a perceber o destino do gel.
A dor e o prazer andam muitas vezes de mãos dadas. Às vezes é difícil dizer onde acaba uma e começa o outro. Outras vezes isso nem sequer importa.
- Começas a merecer ser minha escrava...

Eu sinto que começo, sim.

Sunday 13 January 2008


O meu Dono é inflexível. Um mal-entendido, um deslize, uma falha e o meu dia passa num ápice de inesperadamente bom a decididamente mau. Humilhada, escorraçada, atordoada, largada no meio da rua sem perceber se tudo se passou em câmara lenta ou em 78 rotações, é como se tivesse sido despejada noutro planeta sem fato protector. Não compreendo a linguagem destes seres que se cruzam comigo nem eles sabem o que se passa dentro de mim. Tudo à minha volta me arranha e nem num ambiente supostamente confortável eu me sinto eu. Desequilibro-me, desarmonizo-me, decomponho-me. Falta-me tudo quando me falta o meu Dono.

Thursday 10 January 2008

TEMPO



O tempo com o meu Dono parece-me sempre pouco. Mesmo aquele que ao princípio me parece muito, mesmo o inesperado que me faz largar tudo e correr para Ele em ânsias, acaba sempre por passar depressa demais.
Ou sou eu que não dou por ele, focada que estou exclusivamente no meu Dono, submersa num estado alterado de consciência, transportada para uma dimensão paralela onde os relógios derretem pelos cantos como pinturas de Dali, os minutos encolhem e esticam como bolas de chiclete e um coelho de chapéu alto passa a correr dizendo : é tarde, é tarde.

Wednesday 9 January 2008

CADELA DO SENHOR JB


A prática de dog-play não é desprovida de senso. Para além de toda a carga simbólica que detem posturas como andar de quatro, comer numa tigela no chão, ser afagada como um animal de estimação e da simbologia fortíssima da coleira, há muito mais por detrás desta inteligente associação.

Na verdade uma escrava tem muito em comum com uma cadela. É fiel ao dono e mantem com ele uma ligação eterna, desinteressada e profundamente submissa. Capaz de sobreviver por si só como espécie e como indivíduo, é no entanto na relação com o dono que encontra a realização suprema. Basta observar a reacção de uma cadela quando o dono se ausenta, mesmo que por períodos curtos de tempo : quando não chora, mantem-se determinada junto à porta por onde sabe que o dono vai entrar e consegue senti-lo muito antes dele chegar, muitas vezes a distâncias impossíveis de percepcionar pelo faro, pela visão ou audição. Há de facto um laço subtil entre cadela e dono que os mantem ligados apesar da distância física.
Mas uma das facetas mais fascinantes da interacção da cadela com o dono é a capacidade de aprendizagem. Uma cadela é capaz de aprender um sem-número de habilidades com o objectivo único de agradar ao dono. Com alguma paciência e treino a cadela é capaz de aprender coisas surpreendentes.

O meu Dono anda a ensinar-me novas habilidades. Ele sabe que eu sou capaz de fazer exactamente aquilo que Ele quer que eu faça. Que sou capaz de melhorar as minhas performances. Que sou capaz de me ultrapassar, de me transcender, ir cada vez mais longe e mais fundo. Só para Lhe dar prazer.

Tuesday 8 January 2008

DAS ORDENS


Suponho que, para uma escrava, uma ordem tenha o mesmo efeito que tem para uma mulher livre uma caixa de bonbons, uma jóia, um convite para jantar num sítio especial. Uma ordem é como um presente do Dono. É uma forma de atenção, uma demonstração de interesse. Mais do que isso, uma ordem cria uma ligação privilegiada e instantânea entre Dono e escrava.

Ao dar uma ordem, o Dono põe em movimento uma forte energia que envolve a escrava, como se lhe desse corda. Entre o momento em que recebe a ordem e a dá como cumprida, há um instante e a eternidade, há uma explosão de sentimentos, de emoções que vem ao de cima como bolhas de ar em água a ferver.

Uma ordem é uma ferramenta poderosa na mão do Dono, uma forma de excelência de manter a escrava ligada. Pensar que o objectivo de uma ordem é simplesmente ser cumprida, é esvaziá-la do conteudo, é fixar-se na forma. Só quem já sentiu o poder de dar uma ordem ou o sublime prazer de a cumprir pode entender a extensão do que estou a dizer aqui.
A autoridade do meu Dono baseia-se na razão. Quando me dá uma ordem, sabe de antemão que posso cumpri-la. Mesmo que eu não saiba disso. Nem que eu tenha de rabiar e fazer malabarismos.

Quando o meu Dono me dá uma ordem, toda eu estremeço. Sinto piquinhos pelo corpo todo e quanto mais transtorno me der cumprir a ordem, mais excitada eu fico. Quanto mais exigir o meu Dono, quanto mais intransigente for no seu cumprimento integral e eficaz, apesar do grau de dificuldade e quanto mais aparentemente incompreensível a ordem, mais eu me deleito.
É como se, apesar da distância física, eu sentisse a Mão do meu Dono sobre mim o tempo todo, sentisse o Seu poder envolver-me como um redemoinho, a Sua vontade empurrar-me como uma monção.


Sunday 6 January 2008

SIMPLES


É muito simples. A vontade do meu Dono prevalece sobre a minha vontade. Porque ambos queremos assim.

Ao contrário de uma relação de parasitismo, em que um se alimenta sem consentimento da substância do outro, e ultrapassando a relação simbiótica em que o canibalismo afectivo é uma estrada com dois sentidos, uma relação bdsm permite a cada um viver as suas fantasias de uma forma gratificante, intensa e criativa. A manipulação que é consentida e não imposta , o direito de posse que é conquistado e não extorquido, a autoridade que é assumida e não velada, eis onde reside toda a diferença.

A vida não é isenta de riscos. Mas o próprio formato da relação, são, seguro e consensual elimina à partida a obsessão, o perigo, o abuso. Sem as armadilhas e subterfúgios, obrigações e preocupações de outros tipos de relação, uma relação D/s é um campo aberto para a expressão mais genuína de nós mesmos. Em plena liberdade.