Tuesday, 9 October 2007

DESCOBRIR AS DIFERENÇAS

Foto : Tokyo Kink Society

Uma boa parte das relações humanas mantem-se numa base de Dominação/submissão. Mesmo aquelas que supostamente não se baseiam, vivem em algum momento desse confronto, mais ou menos evidente, mais ou menos perceptível, entre - ainda que momentaneamente - o mais forte e o mais fraco. São relações baseadas no medo. Domina-se por medo de perder alguém ou alguma coisa - o alvo da dominação, o poder, a razão, a imagem, a admiração dos outros - e é-se dominado exactamente pelas mesmas razões. Não faltam exemplos de casos concretos, em relações profissionais, familiares, conjugais e até de amizade. Diria que enquanto cada um se remete ao seu papel, a relação funciona; quando há uma parte que renuncia a continuar - normalmente o elo mais fraco - a relação tem tendência a acabar. São relações desiquilibradas, baseadas em falsos princípios e em situações pouco claras. São relações traumáticas, porque normalmente quem se sujeita fá-lo porque não vê outra opção e quem exerce o poder, também não. É típico dessas relações o dominado esconder dos outros a sua condição, e embora em privado se sujeite às maiores humilhações, raramente o deixa transparecer para o exterior. É vulgar, até, de alguma forma procurar justificações para o comportamento de que é alvo e procurar desculpabilizá-lo, perante si mesmo, mas principalmente perante os outros. Pôr pó-de-arroz sobre algo que muitas vezes não se quer ver. As vítimas de violência doméstica tendem esconder as provas físicas dessa violência e a inventar explicações para encobrir a sua própria vergonha e a culpa do agressor. Por medo.

Penso que é exactamente nesse ponto que difere destas uma relação bdsm. Porque se baseia na coragem e não no medo. Na coragem de quem Domina e de quem é dominado. Coragem de ver e de assumir. Coragem de se conhecer a si mesmo e ao outro em profundidade. Coragem para testar os limites, os seus e os do outro. Coragem para proporcionar ao outro o que o outro gosta.
Coragem deriva do latim cor - coração. É talvez essa abertura de coração que faz a diferença. Quem Domina e quem é dominado não oculta a sua condição e se não a vive em pleno é, as mais das vezes, por uma questão de respeito por quem não entende essa opção de vida. Nos meios onde é possível expressar-se livremente, Dominador e submissa tendem normalmente a exibir a sua situação, não a disfarçá-la. E mesmo quando essa "estranha" forma de amor deixa marcas, a submissa costuma exibi-las com orgulho, como um troféu. É talvez por isso que muitas vezes se entreabre a porta da privacidade e se deixa espreitar quem passa. Não por exibicionismo barato, não por promiscuidade, mas por um imenso orgulho. Mas o melhor de tudo, é o que se passa do lado de dentro. E o melhor, guarda-se sempre para o Dono. Eu guardo.




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