Saturday, 29 September 2007

O MEU QUADRADINHO


O meu Dono deu-me um quadradinho onde eu existo.

Quatro linhas invisíveis, tão reais e intransponíveis como paredes sólidas, que traçam a fronteira entre dois mundos paralelos.

Movo-me nas pontas dos pés nesse espaço limitado, percorro os quatro lados com as palmas das mãos, apalpando-lhes a forma. Reconheço-lhe os cantos, palmilho-lhe a área. Bato com os nós dos dedos ao longo do perímetro, procurando alguma passagem oculta para o exterior.

Pinto-o de muitas cores, revisto-o de sensações, forro-o de memórias.

O meu Dono observa-me de cima, como um predador atento a todos os movimentos da sua presa, esperando pacientemente o momento de avançar. Como num jogo de estratégia, aguarda a altura certa para fazer a próxima jogada.

Por vezes vê-me aninhada a um canto, muito quieta, procurando ver para além dos traços, outras atirada violentamente contras as paredes maciças, torturada pela incerteza, massacrada pela dúvida, chacinada pela ausência. Outras ainda comprimida, sufocada pelo confronto com as barreiras que me impôs.

É só quando me atira a corda que me liga a Ele que eu percebo que esteve sempre lá, atento e seguro, enquanto eu me debatia com fantasmas inventados em vez de permanecer tranquila e confiante à Sua espera. Ajoelhada e reverente, como estou agora.





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